Inteligência Artificial na educação: Desvendando o futuro da sala de aula

Como o Marco Referencial da UNESCO orienta professores a integrar a IA de forma ética, crítica e centrada no ser humano na educação básica

em 04/09/2025

Inteligência Artificial na educação: Desvendando o futuro da sala de aula

Por André Ozawa*

Em um cenário de acelerada transformação digital, a Inteligência Artificial transcendeu o campo da especulação para se consolidar como uma força tecnológica influente no cotidiano. Na educação, sua ascensão inaugura um horizonte de possibilidades inovadoras, ao mesmo tempo que suscita debates sobre o papel do educador e os métodos de preparação dos estudantes para um futuro intrinsecamente tecnológico. Sem ignorar também os problemas que surgiram com essa nova tecnologia – como toda tecnologia, talvez – este texto pretende olhar o copo meio cheio, a partir de um texto específico: a UNESCO, como principal agência das Nações Unidas para a educação, apresenta o "Marco Referencial de Competências em IA para Professores". Este documento não se propõe a ser um manual prescritivo, mas sim um guia conceitual que convida à reflexão e oferece diretrizes para uma navegação segura e propositiva na nova era digital.

A seguir, uma análise das ideias centrais do documento e suas implicações para a prática pedagógica na educação básica.


O fator humano como epicentro da inovação

A premissa fundamental estabelecida pela UNESCO é a centralidade do professor no processo educativo. A tecnologia, por mais avançada que seja, é posicionada como uma ferramenta de suporte, e não como um substituto para a figura docente. O documento reforça que a abordagem da IA na educação deve ser, incondicionalmente, centrada no ser humano. Embora a IA possua a capacidade de processar vastas quantidades de dados, gerar conteúdo e personalizar a aprendizagem em uma escala sem precedentes, a interação humana, a empatia, o pensamento crítico e a formação de valores permanecem como o núcleo insubstituível da experiência educacional.

O Marco Referencial propõe a "desmistificação da IA", um conceito que implica abandonar a percepção da tecnologia como uma força autônoma e inescrutável. A IA é desenvolvida, treinada e orientada por seres humanos. Consequentemente, recai sobre os educadores a responsabilidade de cultivar uma mentalidade crítica para discernir os benefícios e os riscos inerentes a cada ferramenta, assegurando que seu uso sirva para fortalecer, e não para erodir, a autonomia e a capacidade intelectual dos estudantes.

Na prática pedagógica, isso se traduz em uma curadoria criteriosa das tecnologias, questionando seus propósitos, a segurança dos dados e o potencial de inclusão ou exclusão. Significa, também, utilizar a IA para otimizar tarefas operacionais, liberando tempo docente para se dedicar a atividades de maior valor agregado, como o diálogo, o debate, a orientação individualizada e a facilitação de projetos que estimulem a colaboração e a criatividade discente.


As novas arquiteturas da competência docente

Para orientar a prática docente, o Marco Referencial articula as competências em cinco dimensões essenciais, que funcionam como pilares interdependentes:

1.  Mentalidade Centrada no Ser Humano: O princípio basilar que posiciona os direitos e as necessidades de desenvolvimento dos alunos como foco primário de qualquer iniciativa tecnológica.

2.  Ética da IA: A compreensão aprofundada dos princípios éticos que regem o uso da IA, abrangendo desde a privacidade de dados e propriedade intelectual até o combate ativo a vieses e discriminações que os algoritmos podem perpetuar.

3.  Fundamentos e Aplicações de IA: A aquisição de um conhecimento conceitual sobre o funcionamento da IA. Entender os fundamentos de algoritmos e treinamento de modelos capacita o educador a selecionar e a empregar as ferramentas com maior discernimento e eficácia.

4.  Pedagogia de IA: A competência de integrar a tecnologia ao design instrucional. Trata-se da habilidade de incorporar a IA ao planejamento, às estratégias de ensino e aos métodos de avaliação com intencionalidade pedagógica, visando o enriquecimento da aprendizagem.

5.  IA para o Desenvolvimento Profissional: O reconhecimento da IA como um recurso para o próprio crescimento do educador, facilitando o acesso a novos conhecimentos, a conexão com pares e a reflexão sobre a própria prática.

Essas dimensões demandam um planejamento pedagógico intencional, onde a ferramenta tecnológica é sempre um meio para atingir objetivos de aprendizagem claros. Isso pode se manifestar no uso de uma IA generativa para estimular a criatividade dos alunos na construção de narrativas ou na promoção de debates estruturados sobre os dilemas éticos contemporâneos da IA, desenvolvendo assim a cidadania digital e o pensamento crítico.


Da estrutura à ação: Aprendizagem contínua para educadores

O documento da UNESCO funciona como um "padrão de referência mestre", um guia flexível projetado para ser adaptado às diversas realidades educacionais. Ele posiciona os professores como agentes de mudança, incentivando a exploração do potencial da IA para catalisar uma transformação positiva na educação, desde a criação de ambientes de aprendizagem mais inclusivos até o fomento de novas culturas de colaboração e inovação.

A evolução exponencial da IA impõe ao corpo docente a necessidade de uma aprendizagem contínua e adaptativa. A capacitação emerge, portanto, não como uma opção, mas como uma condição essencial para a prática pedagógica relevante no século XXI.

Preocupada com essa demanda, a Casa Firjan, através da Firjan SESI oferece cursos de Letramentos em IA e de Educação Algoritmica, fundamentais para a construção de uma base conceitual sólida. Para os educadores que buscam a maestria técnica, a FIRJAN SENAI disponibiliza um curso prático sobre Ferramentas de IA, focado na aplicação e domínio de recursos.

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Diante da integração da Inteligência Artificial ao mundo da educação, a questão fundamental que se impõe ao educador não é se devemos nos adaptar, mas como lideraremos essa transformação para garantir que o futuro da aprendizagem permaneça, acima de tudo, humano.

*André Ozawa é educador e coordenador do portfólio Firjan SESI para educadores da Casa Firjan.