Estudos de Futuros para fortalecer a agenda social nas empresas

'Olhar para o futuro demanda olhares múltiplos e diversos', afirma Jéssica Leite, pesquisadora do Lab de Tendências

em 09/01/2023

Estudos de Futuros para fortalecer a agenda social nas empresas Estudos de Futuros para fortalecer a agenda social nas empresas

Por Jéssica Leite*

A consolidação dos critérios ESG (Ambiental, Social e Governança) nos mercados nacional e internacional tem acelerado a demanda para que as empresas invistam e coloquem no centro de suas estratégias as mais urgentes agendas sociais, como o combate à fome, analfabetismo, racismo, preconceito de gênero, e tantas outras. O desafio, porém, é grande: como implementar ações concretas de mudança que sejam condizentes com o negócio?

Os Estudos de Futuros (EF) podem contribuir nesta tarefa quando utilizados como metodologia para auxiliar a tomada de decisão de líderes e gestores nas empresas. Os EF são uma área de pesquisa voltada a prospectar de forma sistematizada possíveis eventos e movimentos que podem vir a configurar realidades futuras de curto a longo prazo. As pesquisas realizadas têm entre seus pilares a busca e a sistematização de conhecimentos, informações e percepções diversas sobre um objeto e recorte de análise. 

Para atender a este olhar múltiplo, os processos de pesquisa podem ser menos ou mais participativos. Neste sentido, diferentes stakeholders de uma empresa podem ser convidados a contribuir na construção do conhecimento por meio de dinâmicas e procedimentos de pesquisa como entrevistas, questionários e workshops.

Considerando os pontos levantados acima, quando se trata da construção de estratégias e ações sociais nos negócios, pode-se destacar duas das principais contribuições geradas pelos Estudos de Futuros. 

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A primeira trata especificamente do tipo de conhecimento gerado para a organização. A entrega final do estudo ajuda a empresa a identificar possíveis riscos e oportunidades de atuação, a analisar o lugar no qual se encontra atualmente e a delimitar ou fortalecer o que deseja para o futuro. Assim sendo, Estudos de Futuros realizados sobre a temática de impacto social de um negócio, por exemplo, podem gerar um conhecimento sistêmico, detalhado e estratégico que pode contribuir para o posicionamento da empresa frente às questões sociais.

A segunda contribuição refere-se à possibilidade de convidar stakeholders de diferentes setores, grupos da sociedade e da própria organização para fazerem parte do processo de tomada de decisão do negócio. O estabelecimento de um processo pautado nesta cocriação com atores diversos contribui não apenas na construção de uma cultura de colaboração como, também, fortalece os laços entre a empresa e seus stakeholders. 

Além disso, adotar os Estudos de Futuros como uma forma de gerar dinâmicas de colaboração e cocriação com stakeholders é demonstrar que o negócio entende a capilaridade de sua atuação, o seu poder de mudança e a importância de gerar transformação a partir da visão de todos que fazem parte de suas atividades e de seus desdobramentos.

A UNESCO vem disseminando a relevância do Letramento de Futuros como um vetor de mudanças positivas na sociedade, sejam aquelas feitas no espectro pessoal, profissional, regional ou mundial. Neste contexto, o Letramento de Futuros é entendido como uma capacidade inerente ao ser humano de vislumbrar e compreender como o futuro pode se desenvolver e impactá-lo. Uma vez que esta capacidade seja exercida e direcionada, pode contribuir para o posicionamento de um indivíduo, instituição ou empresa em meio à inconstância presente nos dias, meses e anos à frente.

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Olhar para o futuro demanda olhares múltiplos e diversos, demanda coragem para questionar e mudar, e o exercício de se compreender como parte de um todo. E tudo começa com duas perguntas: Como o futuro pode impactar você, sua empresa e seu meio? E quem pode ajudá-los a apurar sua visão do que está por vir? 

Na materialização de dinâmicas de estudo e pesquisa com uma abordagem participativa, é possível, então, compreender seu meio, o que ele te conta sobre o futuro e quem irá ajudá-lo a cocriar a realidade que deseja para si e para o todo.

Apesar de muitas vezes ser um desafio se manter constantemente como um agente ativo em resposta a questões sociais, certo é que, quando se age em cooperação com outros agentes comprometidos, a tarefa pode se tornar mais fluida. Em um ecossistema no qual há diálogo e colaboração, as ações ganham um potencial de transformação ainda maior do que quando se trata de uma atuação individualizada.

Com os Estudos de Futuros, as empresas conseguem fomentar este ecossistema e apurar a forma como entendem e se colocam na sociedade na qual se encontram. E, tudo isso, sendo coerente com seu negócio.

*Jéssica Leite é pesquisadora do Lab de Tendências da Casa Firjan